A cultura maker é um fenômeno com espírito artesanal no momento histórico em que a digitalização de serviços e produtos alcança novos níveis. O maker é aquela pessoa que faz um uso criativo de conhecimentos técnicos.
Maker significa, literalmente, “fazedor” – uma pessoa que faz as coisas, que coloca a mão na massa. A cultura é algo que se cultiva. Portanto, quando falamos em “cultura maker” nos referimos a estimular práticas de proatividade.
Explicado de outra maneira, ser um maker é ter a curiosidade nos produtos e serviços consumidos e eventualmente descobrir usos criativos para eles. A exploração dos potenciais pequenos pode trazer grandes mudanças e avanços – até mesmo criar produtos novos e serviços melhores.
O escritor Chris Anderson é o autor do livro Makers: a nova revolução industrial e um observador otimista dessa atitude dos fazedores. Ele chega ao ponto de sugerir que pessoas com conhecimento técnico básico e dotados de boas ferramentas podem vir a ser capazes de fazer seus próprios produtos.
Essa atitude exploradora foi determinante para o sucesso de muitos empreendedores de tecnologia do Vale do Silício e está aberta a todos. Esse é o grande apelo da cultura: ela é impulsionada por novas tecnologias que já existem. Mas nem sempre foi assim…
A importância da cultura maker
É importante olhar para trás na História para entender a importância da cultura maker hoje. Alguns dos maiores inventores do mundo projetaram suas criações sem poder realizá-las em vida. Gente como Nikola Tesla ou Leonardo Da Vinci se enquadra nesse grupo.
Da Vinci chegou a projetar em vida coisas úteis como o escafandro, o helicóptero ou o paraquedas, que só seriam fabricados séculos depois por outras pessoas com acesso a recursos mais modernos.
Mas Da Vinci morreu em 1519 – voltemos a nós, que vivemos hoje. A circulação de conhecimento é imediata e irrestrita como nunca. Algumas máquinas e ferramentas complexas que eram caríssimas até poucos anos atrás ficaram mais acessíveis.
Aqui estão algumas tecnologias bem presentes: acesso à internet rápida, impressoras 3D, máquinas de corte a laser, kits de robótica, sistemas de georreferenciamento abertos. O bom uso dessas tecnologias permite “abreviar” longos processos que dependiam de muita gente e dinheiro até muito pouco tempo atrás.
Muitas dessas ferramentas são gratuitas. Por isso, simplesmente sair da zona de conforto e produzir usando esses instrumentos já tem enorme potencial. Felizmente, algumas delas são fáceis de usar até para crianças, já que a experiência do usuário é uma preocupação central de novas tecnologias.
Processo estimulante gera soluções relevantes
Esse processo de aprendizado e de criação tem tudo para estimular os talentos individuais e trazer realização pessoal, além de fomentar boas invenções. O criador da revista MAKE, Dale Dougherty, argumenta que a atitude maker estimula o raciocínio e desperta o potencial criativo de pessoas de diferentes. Elas passam a pensar e agir de maneira pouco convencional.
Numa empresa, a busca por soluções cada vez mais criativas e personalizadas pode ser uma maneira de estimular a diversidade em prol da eficiência produtiva.
Em suma: na pior das hipóteses, a atitude maker ensina coisas novas e diverte. Na melhor das hipóteses, ajuda a solucionar problemas complexos.
Por isso, cultivar uma atitude de fazedor pode capacitar mais gente para resolver problemas ligados a inovação, sustentabilidade e tecnologia – temas complicados, que sempre podem se aproveitar de abordagens novas.
Nova atitude de ensino
Inventores e pessoas com inclinação a criar já têm essa atitude produtiva e estimulante. A noção de cultura maker vem difundir essa mentalidade na educação comum – dentro e fora da escola.
O crescimento exponencial de tutoriais de YouTube nos últimos anos é um sinal do avanço dessa abordagem. As pessoas são estimuladas a compartilhar seu conhecimento gratuitamente com gente do mundo inteiro. A diversidade de assuntos ensinados é enorme.
No ensino formal, essa atitude prática pode ajudar a exercitar a autonomia e a proatividade dos alunos. No ensino infantil, por exemplo, isso pode significar reduzir o tempo de exposição de conteúdo dos professores e aumentar a quantidade de atividades que levem as crianças a achar suas próprias respostas a problemas.
As feiras de ciência e atividades extracurriculares podem ser espaços para estimular os projetos pessoais dos alunos. Adicionalmente, algumas escolas e faculdades apostam nos laboratórios makers. Essa modernização do ambiente de ensino acrescenta duas coisas importantes às aulas: 1) conhecimento empírico; 2) tecnologias.
Os laboratórios são espaços para estimular a criatividade em criações conjuntas, usando aparelhos de computação, drones, impressoras 3D e outras tecnologias. Os projetos combinam conhecimento técnico e cooperação e podem render resultados como jogos, sites, aplicativos, programas, entre outros.
Cultivar esse uso criativo de tantas ferramentas é muito importante porque a lógica de consumo na sociedade de hoje é pautada pela cultura maker. Muitas empresas convidam os próprios consumidores para opinar sobre serviços e mercadorias. Versões Beta de programas virtuais são um exemplo claro disso.
Esse convite do público para participar da rotina de produção da empresa não é mais uma mera opção: é uma necessidade num mundo em que os produtos e serviços podem ter múltiplos usos. Aliás, é desse diálogo que surgem as soluções criativas, os ganhos de eficiência e os diferenciais que nem mesmo uma equipe de especialistas poderiam antever.
Conclusão
Manter um papel ativo e sair do óbvio não é algo simples. A tendência do ser humano é procurar uma zona de conforto e ficar nela. Por isso, cultivar a atitude maker é algo tão importante.
Além de trazer impactos pessoais construtivos, essa abordagem tem pode trazer benefícios para a formação de uma pessoa, inclusive constituindo ótimos diferenciais no campo profissional. O “faça você mesmo” nunca trouxe resultados tão palpáveis quanto hoje.